terça-feira, 29 de novembro de 2011

Português Suave.




É o encanto de se ser Português. Vamos estando e ficando meio apáticos, meio felizes, meio perdidos, meio encontrados. Com medo de rir demasiado, ou de gostar demasiado, ou de nos mexer demasiado, não vá o diabo tecê-las, e o mundo provar-nos que estávamos enganados. E vamos cultivando estes amores e vontades meio mornos, meio transparentes, até que alguém, que não nós, os valide publicamente e grite aos quatro ventos que esse amor agora é da humanidade inteira. E nem aí mostramos os dentes, nem fazemos caretas, nem elevamos a voz, nem perdemos a compostura, nem reivindicamos nada. Com sorte ainda pensamos "eu sempre disse isto, porque é que nunca ouviram?" Português suave, portanto.

Posto isto, reitero a minha paixão profunda e absoluta por gentinha esquisita e estranha e difícil de gostar à primeira vista. Os que não sabem onde por as mãos no decorrer de uma conversa, os que reagem fora do contexto, os que cantam no meio da rua, os que se riem a bandeiras despegadas, os que nunca conseguem acabar uma frase porque a voz nunca consegue acompanhar a cadência das ideias. Parece-me a mim, que tenho a sorte de conhecer alguns. Weirdos e bichos do mato deste mundo, sou vossa fã.*


Btw, kinder surpresa da paragem do 709, encaixas perfeitamente na categoria de weirdo. Potencial.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Kinder Surpresa




O mundo está cheio de surpresas, e as pessoas também.
Há uns tempos disseram-me que todas as pessoas têm na tua vida um prazo de validade, existem as que ficam 2 anos, outras que ficam 20, e outras 5 minutos. Ainda que na altura isto me tenha soado a cinismo fácil, tendo a acreditar que é a mais pura das verdades. O segredo está em aproveitar cada minuto, cada pedacinho, e nos deixarmos surpreender pelas pequenas coisas que vamos encontrando no caminho. E se te permitires a esta experiência, vais acabar por perceber que a tua vida está cheia de kinder surpresas prontos a serem descobertos!
E as surpresas vêm de todos os lados. Vais encontrá-las não só em alguém que acabaste de conhecer na paragem do autocarro, como naqueles que sempre te rodearam mas que o hábito não te deixou ver para além do óbvio. Por isso, o melhor a fazer é pegar em cada oportunidade, tirar-lhe a prata, dar uma trinca e descobrir a surpresa!

PS. Ao kinder surpresa da paragem do 709 (weirdo enough to make me curious).*

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Encontro.



Na semana passada houve disto, e não podia ter sido melhor.
Pela acidez, pelo desencanto latente, pela amargura, pelas histórias de pessoas erradas, e por todas as outras imperfeições que o tornam perfeito. Na plateia o silêncio gelado, olhares cheios de água e sorrisos torcidos. Todos à espera que o último minuto se demorasse um bocadinho mais.

Parece-me que é assim que se encontra o que se procura. Sempre tive inveja das pessoas que sabiam o que procurar. De quem não conseguia pensar em mais nada se não no ruído do filme a passar pela abertura da câmara fotográfica, os que passavam noites ao relento para encontrar constelações ou horas na cozinha à procura das texturas e sabores perfeitos.

E porque naquele momento só queria saber dizer metade daquelas palavras, já devo ter encontrado qualquer coisa. Parece-me.*


P. Auster @ Lisboa e Estoril Film Festival

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Nothing to declare.



Queria comprar um bilhete só de ida para qualquer sítio recôndito deste planetazinho demasiado pequeno. Ir sem nada a declarar, sem histórias nem memórias na bagagem. Só ir. E reinventar tudo mais uma vez, e outra vez, e tantas vezes quantas fossem precisas até que todos os pedacinhos se voltassem a colar. Fui.*