sábado, 24 de dezembro de 2011

Histórias Felizes.


 
Parece que é Natal, e portanto, como a tradição faria o favor de mandar, este devia ser o momento em que se deseja a todos um feliz Natal.

Mas porque por aqui a tradição não goza de boa fama, quero mais é desejar-vos dias felizes. Muitos dias felizes. O de hoje, e os outros todos que vêm depois. Dias cheios de lugares e momentos, partilhados com pessoas que tornam as nossas histórias um bocadinho melhores do que eram antes.
Porque são as histórias que importam. Porque são elas que dão uma estrutura e um sentido a tudo o que acontece. Portanto meus queridos, criem histórias, vivam histórias, contem histórias, partilhem histórias. E a todos aqueles com quem eu partilho as minhas também (as deste blog e as outras), desejo-vos a todos muitos dias muito felizes.

(E no que ao Natal diz respeito, as mensagens de telemóvel estão para o facebook da mesma maneira que os livros estão para os e-books. Parece que se perdeu qualquer coisa. Por isso, amigos do meu coração, vou melgar-vos os telemóveis com todo o meu amor, estejam por cá, por NY por Londres ou pela conchinchina!)

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

A walk in the park.




Há passeios que são apenas isso mesmo. Outros, que abrem portas, janelas e portais para realidades paralelas inesperadas. É daquelas coisas.
Num momento tens à tua volta àrvores cadavéricas que te acenam numa nudez cinzenta, o céu prestes a cair, o chão quase a rasgar-se, pronto a engolir-te. À tua frente, desenha-se o pior dos desfechos.
No momento seguinte, e na companhia certa, o cinzento já não é tão cinzento, o ar já não é tão gelado, o céu é um bocadinho mais azul, e o chão apara cada um dos teus passos. E de repente, é como se entrasses numa esfera autística onde só entra quem quiseres, o que quiseres, no momento em que achares oportuno. Pouco importa como acaba o passeio ou que vais encontrar quando lá chegares. Não fazem falta muitas palavras, nem conversas metafísicas, nem preencher o ar de ruído.
Porque em certas companhias o silêncio é confortável.
Porque a realidade se pode transformar e a paisagem transfigurar-se de cada vez que experimentares olhar.
Porque certos passeios no parque abrem possibilidades.
E eu gosto.*



quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Nova morada.



A Chiquelette mudou de morada. Pelo menos até que a inspiração, as ideias e a retórica se desbloqueiem. Até ver, estará fechada a sete chaves no palácio da lua que, devo desde já avisar, sobretudo às almas mais propensas a estados depressivos, é um lugar bem atento às vontades da melancolia. E porque não me atrevo a qualquer tentativa criativa enquanto leio este senhor, deixo-vos uma pérola do mestre...

«As nossas vidas são determinadas por múltiplas contingências», disse eu a certa altura, tentando ser tão sucinto quanto possível, «e, todos os dias, lutamos contra estes choques e acidentes a fim de mantermos o nosso equilíblio. Há dois anos, por razões simultaneamente pessoais e filosóficas, decidi desistir dessa luta. Não porque quisesse matar-me, mas porque pensava que, ao abandonar-me ao caos do universo, o universo acabaria talvez por me revelar uma qualquer secreta harmonia, uma qualquer forma ou padrão que me ajudaria a penetrar em mim mesmo. A ideia fulcral era aceitar as coisas tal como elas são, era ir à deriva na corrente do universo. Não estou a dizer que tive êxito no caminho que decidi trilhar. Na realidade, fracassei miseravelmente. Mas o fracasso não vicia, não macula, a sinceridade da tentativa.»

Amen.

@ Palácio da Lua, Paul Auster